Sentença do juiz federal Sérgio Moro é desta quinta-feira (30); o
ex-presidente da Câmara está preso desde outubro de 2016.
Eduardo
Cunha, ex-presidente da Câmara, está preso desde outubro de 2016 no Paraná
(Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
Por
Alana Fonseca, Bibiana Dionísio e Thais Kaniak, G1 PR, Curitiba
O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava
Jato na primeira instância, condenou nesta quinta-feira (30) o deputado cassado
e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) a 15 anos e 4
meses de reclusão. Esta é a primeira condenação dele na Lava Jato.
Cunha responde a
outras duas ações penais, uma em trâmite na 10ª Vara Criminal Federal de
Brasília, relativa à Operação Sépsis, e outra encaminhada a Moro pelo Supremo
Tribunal Federal, que investiga se ele recebeu propina de US$ 5 milhões em
contratos de construção de navios-sonda da Petrobras.
Na denúncia
oferecida à Justiça Federal, o Ministério Público Federal (MPF) acusou Eduardo
Cunha de receber propina em contrato da Petrobras para a exploração de petróleo
no Benin, na África. O ex-deputado é o único réu deste processo, que estava no
Supremo Tribunal Federal (STF) e foi encaminhado à 13ª Vara da Justiça Federal no Paraná após Cunha ser
cassado.
"O
condenado recebeu vantagem indevida no exercício do mandato de Deputado
Federal, em 2011. A responsabilidade de um parlamentar federal é enorme e, por
conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes. Não pode haver
ofensa mais grave do que a daquele que trai o mandato parlamentar e a sagrada
confiança que o povo nele deposita para obter ganho próprio. Agiu, portanto,
com culpabilidade extremada, o que também deve ser valorado
negativamente", afirmou o juiz federal na sentença.
A defesa do
deputado cassado informou que vai recorrer ao Tribunal Regional Federal (TRF)
da 4ª Região, em Porto Alegre (RS).
"A defesa
protocolou as alegações finais no início da noite de segunda-feira [27]. Causa
perplexidade a velocidade com que a sentença foi proferida, o que nos leva a
duas conclusões: a peça da defesa, para o juiz, foi mera formalidade, eis que,
muito provavelmente sua excelência já tinha, no mínimo, uma minuta de decisão
elaborada; e, mais uma vez, tenta evitar que o STF julgue a ilegalidade das
prisões provisórias por ele decretada. Isso é lamentável e demonstra a forma
parcial que aquele juízo julgou a causa", declarou Ticiano Figueiredo,
advogado de Eduardo Cunha, mas que não atuou neste processo. O defensor do
deputado cassado, nesta ação penal, é o advogado Marlus Arns.
O ex-presidente
da Câmara está preso no Complexo Médico-Penal de Pinhais, na região
metropolitana de Curitiba, desde outubro de 2016. Na sentença, o juiz disse que
ele deve continuar preso durante a fase de recursos do processo. Moro alega
que, mesmo na cadeia, Cunha tentou chantagear e ameaçar testemunhas.
Dinheiro a ser devolvido
Segundo
sentença, Eduardo Cunha recebeu cerca de US$ 1,5 milhão – atualmente de cerca
de R$ 4.643.550. Este valor foi usado como base para definir o ressarcimento
para a Petrobras.
“Apesar da
Comissão Interna de Apuração da Petrobras ter apontado um prejuízo de cerca de
77,5 milhões de dólares, reputo mais apropriado fixar um valor mais
conservador, correspondente ao montante da vantagem indevida recebida, de um
milhão e quinhentos mil dólares. Trata-se aqui do valor da indenização mínima,
o que não impede a Petrobras ou o MPF de perseguirem valores, no cível,
adicionais”.
Segundo o juiz
Sergio Moro, uma futura progressão de regime para o semiaberto ficará
“condicionada à devolução do produto do crime, no caso a vantagem indevida
recebida”.
Crimes absolvidos
Sérgio Moro
absolveu o deputado cassado de lavagem de dinheiro em relação a uma
transferência bancária internacional porque, de acordo com o juiz, os valores
não foram provenientes de propina. O juiz também absolveu o réu de um crime de
evasão de divisas, em relação à omissão de saldo de contas mantidas no
exterior.
Michel Temer
Em 2016, Cunha
protocolou um documento, no sistema eletrônico da Justiça Federal do Paraná,
com 41 questões para serem respondidas pelo presidente Michel Temer (PMDB), arrolado como sua testemunha de defesa neste processo.
Moro barrou 21
delas. À época, o juiz federal considerou parte das questões como inapropriadas
ou então sem pertinência com o objeto da ação penal.
Nas alegações
finais, os advogados que defendem Cunha pediram que Moro fizesse as 21 questões
barradas ao ex-presidente.
Com relação às
acusações de Cunha contra o presidente Michel Temer, na sentença Moro afirmou
que o juízo não tem "competência para apurar condutas do Exmo. Sr.
Presidente da República" e que "não se pode permitir que o processo
judicial seja utilizado para que a parte transmita ameaças, recados ou
chantagens a autoridades ou a testemunhas de fora do processo".
Aneurisma
Em fevereiro
deste ano, durante o trâmite do processo, a defesa de Cunha apresentou exames que mostram o aneurisma cerebral do cliente,
além de relatório e atestado médicos. Ele revelou a doença ao juiz durante o
interrogatório e a comparou ao caso da ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da
Silva, que morreu naquele mesmo mês.
À época, a
Secretaria de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp)
disse que o problema de saúde não excluia a custódia do deputado cassado, já
que o aneurisma pode se romper em qualquer lugar, como na casa dele.
"Mesma condição ele teria dirigindo um carro", exemplificou o diretor
Luiz Alberto Cartaxo Moura.
Cunha se negou a realizar um novo exame no Complexo
Médico-Penal.
Outras ações
Cunha responde a
outras duas ações penais. Uma tramita na 10ª Vara Criminal Federal de Brasília
e é relativa à Operação Sépis, um desdobramento da Lava Jato.
O deputado cassado é suspeito de envolvimento em um esquema de propina para
liberação de recursos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), administrado
pela Caixa Econômica Federal.
A outra ação
penal foi encaminhada por Moro ao Supremo Tribunal Federal. Ela investiga se o
ex-presidente da Câmara recebeu propina de US$ 5 milhões em contratos de construção de navios-sonda da
Petrobras.
Na Justiça
Federal do Paraná, Cunha responde a uma ação civil de improbidade
administrativa, também movida no âmbito da Operação Lava Jato, que alega a
formulação de um esquema entre os réus visando o recebimento de vantagem
ilícita proveniente de contratos da Petrobras. A ação corre na 6ª Vara Cível.
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